Problematizar a realidade
encontros entre arte, cinema e filosofia
Parceria entre IFILNOVA (CineLab) / Universidade Nova de Lisboa, Goethe-Institut Portugal and Maumaus / Lumiar Cité e em colaboração com Apordoc / Doc's Kingdom. Com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia e Ministério da Cultura/Direcção Geral das Artes.
As obras de arte de ordem documental, nomeadamente aquelas que usam o filme ou o vídeo como suporte, apelam à reflexão sobre a realidade de modo particularmente desafiador. Enquanto a ligação indexante à realidade que abordam garante ao som e às imagens uma credibilidade específica, a posição do artista, as escolhas estéticas, temáticas e políticas, a compreensão subjetiva e a sensibilidade artística determinam como essa realidade é mediada. Se nos meios de massa a parte da mediação pode ser diluída, ou mesmo omitida - e, assim, as imagens são ideologicamente apresentadas como representações objetivas da realidade factual -, as obras de arte incluem a mediação para abordar a realidade de forma produtiva e por meio da sua própria configuração estética, levantando assim um conjunto de questões que são fundamentais não só para o campo artístico, como para o pensamento filosófico: a reflexão sobre a relação entre o mundo factual e a sua apropriação subjetiva, o questionamento das reivindicações hegemónicas de objetividade e autoridade e a problematização das contradições inerentes à sociedade. As obras de arte e o pensamento filosófico, apesar das suas formas, figuras e objetivos diferentes, partilham a preocupação de abordar a relação complexa entre o mundo empírico e a sua mediação por meio da perceção, signos e conceitos. O que significa abordar criticamente a realidade através de uma forma artística? Em vez de gerar apenas uma impressão de evidência e imediatismo, como pensam e nos fazem pensar as constelações artísticas? Como pode um específico conteúdo de verdade ser descodificado através da montagem, do ritmo ou de um arranjo em constelação? Qual é o agenciamento de uma determinada forma artística em relação ao seu conteúdo? Como poderão os problemas políticos, éticos ou epistemológicos ser abordados através de uma inteligibilidade do sensível? E como ajudará o pensamento filosófico a medir o seu impacto e desenvolver os seus diferentes estratos de significado?
Estes sete encontros, com regularidade mensal, entre personalidades com reconhecimento internacional, que oferecem perspetivas múltiplas sobre o pensamento atual, dentro e fora, mas sempre em relação ao campo da arte - artistas, cineastas, filósofos e investigadores dos campos cultural e político -, visam confrontar o público com estas questões, entre muitas outras. Cada sessão parte da exibição integral de obras de arte, em suporte de filme ou vídeo, seguida de uma discussão entre convidados internacionais, por vezes com posições antagónicas. No entanto, o campo artístico e o pensamento conceptual são considerados como pares: em vez de privilegiar um campo sobre o outro, as intervenções concentram-se nos momentos em que a arte e a reflexão entram num diálogo produtivo. O objetivo não é genericamente elaborar teorias sobre o filme enquanto “medium" ou posições estéticas sobre a arte em geral, nem usar a arte como ilustração de conceitos mais amplos sobre a realidade. Em vez disso, será dada prioridade à singularidade de um momento artístico que incorpora pensamento conceptual, ou à singularidade de um momento conceptual que gera uma forma artística.